Brasil cai diante dos americanos, mas se agiganta com atuação guerreira

Se existem derrotas que valem mais que vitórias, o Brasil experimentou o sabor de uma delas nesta segunda-feira. Após duas atuações apagadas contra os fracos Irã e Tunísia, a seleção de Rubén Magnano se agigantou – e logo contra os Estados Unidos. Perdeu o jogo, mas ganhou moral. Vestindo verde e se agarrando à esperança o tempo todo, a equipe virou o primeiro tempo na frente, manteve o placar apertado até o fim e só viu a vitória escapar na última bola. No banco, o carrasco Rubén Magnano quase beliscou mais uma em cima dos craques da NBA. Desta vez não deu, 70 a 68. Mas foi, com sobras, a atuação que o Brasil perseguia para recuperar a confiança. Magnano, que já tinha batido os EUA em 2002 e 2004, no comando da Argentina, mostrou que conhece bem o caminho para incomodar a maior potência do basquete. Nesta segunda, bateu na trave. Marcelinho Huertas teve a chance de empatar a três segundos do fim, mas errou o primeiro lance livre. Desperdiçou o segundo de própósito e fez a bola chegar a Leandrinho, que, bem marcado, não conseguiu forçar a prorrogação.

Após o alívio de segunda-feira, a seleção ganha uma merecida folga na terça e só volta à quadra na quarta, para enfrentar a Eslovênia. Aí, sim, começa para valer a briga por posições no grupo B. A primeira fase termina na quinta, contra a Croácia. Nesta segunda, os eslovenos bateram os croatas por 91 a 84, e o Irã derrotou a Tunísia por 71 a 58. Quatro dos seis países vão às oitavas.

O cestinha brasileiro nesta segunda, em Istambul, foi Marquinhos, que começou como titular e terminou com 16 pontos. Quem também brilhou foi Tiago Splitter, com ótima atuação defensiva, além de 13 pontos e 10 rebotes. Leandrinho fez 14, seguido pelos oito de Marcelinho Huertas, que ainda deu cinco assistências e pegou quatro rebotes.

- Sabíamos que tínhamos uma grande equipe pela frente e jogamos de igual para igual. A gente não queria levar de sapatada. Agora eles sabem que tem perigo pela frente. Tenho certeza que estão surpresos sim. Ninguém gosta de perder, mas foi de um jeito bom - afirmou Leandrinho.

Os americanos devem a vitória a Kevin Durant, que comandou o ataque com 27 pontos, além de 10 rebotes. Chauncey Billups contribuiu com 15, enquanto Derrick Rose fez 11.

Equilíbrio desde o início

Durante o aquecimento, o armador Russel Westbrook dançava após cada bandeja. Kevin Durant era mais comedido que seu companheiro. Olhava Anderson Varejão fora da quadra e parecia imaginar que, sem o ala-pivô do Cleveland Cavaliers, encontraria do outro lado uma equipe fragilizada. Enganou-se. Um Brasil atento, preciso no ataque e na defesa e com postura de vencedor mostrou a sua cara. Fez o que nenhuma outra seleçao da chave conseguiu: virar o primeiro quarto na frente dos americanos (28 a 22).


Quem achava que já era o suficiente se surpreendeu com o segundo período. Assustados, os americanos não conseguiam pôr em prática os contra-ataques que até então tinham sido letais. A marcação brasileira fechava a porta e só Kevin Durant ousava tentar passar por ela. A jovem estrela carregava o time nas costas e ouvia a arquibancada pedir por defesa depois que a diferença chegou aos oito pontos (33 a 25).

Na metade do segundo quarto caiu para um, após um breve momento de desatenção que levou a erros bobos de passe. Nada que não pudesse ser recuperado por Marquinhos, com a mão certeira da linha de três. Que não pudesse ser resolvido por Splitter, gigante nos dois garrafões. Com a pontuação bem distribuída, os comandados de Magnano sobraram e conseguiram o que soava impossível: foram para o intervalo carregando uma vantagem de 46 a 43.

O estrago era tamanho que o técnico Mike Krzyzewski se levantou da cadeira, abandonou o temperamento zen e reclamou muito com sua equipe. O Brasil continuava ditando o ritmo e isso o incomodava. Durant e Derrick Rose trataram de acalmar o chefe. Foram eles que colocaram os Estados Unidos na frente: 52 a 50. Magnano pensava rápido, coçava a cabeça e chamava Alex para o jogo, já que Huertas estava pendurado com quatro faltas, mesma condição de Splitter. O time sentiu o golpe com a saída do armador. Em uma sequência sem sucesso de arremessos longos, deixou o adversário escapar (61 a 55). Por pouco tempo. Leandrinho tomou a iniciativa e diminuiu ao fim do terceiro período: 61 a 59.

Antes da volta para os últimos dez minutos, uma pane no placar colocava os americanos na posição confortável que vinham encontrando no torneio: 61 a 0 a seu favor. Era só um erro tecnológico. Ao fundo, a trilha sonora parecia ter sido escolhida a dedo para os brasileiros. Tocava "I got a feeling", do Black Eyed Peas, prevendo o sentimento de uma noite boa em Istambul. Durant começou a errar lances livres. Marquinhos acertava mais uma de três. Àquela altura, um torcedor solitário que gritava pelos EUA ganhava vaias como resposta.

Os americanos tinham mais um ataque e dois pontos de frente. Erraram. Restando sete segundos, com a Abdi Ipekci de pé, Huertas partiu para a cesta, sofreu falta e a bola caprichosamente bateu no aro e não caiu. A 3s, ela chorou de novo no primeiro lance livre. O armador, então, errou o segundo de propósito para aproveitar o rebote. A estratégia deu certo, mas Leandrinho, bem marcado, não conseguiu converter os pontos que dariam o empate. Fim de jogo. Os americanos aplaudiram e comemoraram como ainda não tinham feito na Turquia. No centro da quadra, os brasileiros se abraçaram, certos de que, apesar da derrota, o dever de recuperar a confiança estava cumprido.

BRASIL: Huertas (8 pontos), Leandrinho (14), Alex (5), Marquinhos (16) e Tiago Splitter (13). Entraram: Marcelinho Machado (7), Murilo (0), Guilherme Giovannoni (5) e JP Batista (0). Varejão (lesionado), Raulzinho e Nezinho não entraram.

EUA: Derrick Rose (11), Chauncey Billups (15), Andre Iguodala (3), Kevin Durant (27) e Lamar Odom (8). Entraram: Russell Westbrook (2), Rudy Gay (1), Eric Gordon (0), Kevin Love (3) e Tyson Chandler (0).

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